A doença celíaca é considerada uma enteropatia mediada por infiltração de células inflamatórias no intestino delgado (local responsável pela absorção de nutrientes), levando a dano tecidual e atrofia do mesmo. Ocorre em indivíduos geneticamente predispostos em que o corpo passa a não conseguir digerir adequadamente a proteína chamada “glúten”. Essa proteína está presente em grãos como o trigo, centeio ou cevada. A aveia, dependendo do seu processo de comercialização pode ser contaminada por trigo, embora a aveia pura, não contém a proteína do glúten. A doença celíaca não é considerada uma alergia alimentar, diferente da alergia ao trigo, onde o processo inflamatório é mediado por imunoglobulinas IgE ou IgG.
Os sintomas mais comuns são:
Dor abdominal, diarreia, constipação, aumento de gases abdominais, cólicas, perda de peso, anemia, empachamento após se alimentar, lesões de pele, alterações de esmalte dentário. Na prática, é comum diagnosticarmos a doença celíaca também em pacientes com anemia crônica ou osteopenia/osteoporose sem causa determinada. Crianças também podem abrir o quadro apenas como déficit de crescimento. Adolescentes podem apresentar desordens menstruais e quando adultas, infertilidade e menopausa precoce. Sintomas neurológicos são raros mas podem aparecer como cefaléia, alterações de sensibilidade, problemas cognitivos, déficits de atenção. A associação com outras doenças como Diabetes Mellitus Tipo I, tireoidite autoimune, síndrome de Down deficiência de IgA pode acontecer.
Diante de qualquer suspeita é imprescindível a procura do seu médico antes da retirada do glúten da dieta, para que seja feito um diagnóstico correto. A positividade de autoanticorpos ou de alterações na biópsia de intestino (por endoscopia digestiva alta) varia com a presença do glúten na dieta, portanto, você deve estar em dieta com glúten por pelo menos 4 semanas antes de realizar os testes. Nos casos de dúvida diagnóstica por vezes temos que recorrer a testes genéticos.
Grande parte dos pacientes podem apresentar anticorpos positivos sem alterações na biópsia de intestino, chamamos de “Potencial” doença celíaca. Não está claro na literatura do benefício da dieta glúten-free. Os que tem anticorpos positivos e alterações histológicas e não apresentar sintomas, são chamados de doença celíaca “Silenciosa”. Esse grupo de pacientes provavelmente se beneficia da dieta glúten-free caso haja algum sinal de malabsorção alimentar. Muito cuidado com os modismos da atualidade e a vilanização do glúten.
Para quê diagnosticar corretamente a doença celíaca?
Para tentar fazer o rastreamento de familiares, atentar para sinais de alarme quanto a possíveis complicações da Doença Celíaca como o linfoma intestinal, ou até mesmo para avaliar a presença de outros diagnósticos diferenciais como a síndrome do intestino irritável, outras intolerâncias ou alergias alimentares, insuficiência pancreática, ou colite microscópica, principalmente naqueles pacientes que mantêm sintomas mesmo com dieta adequada, em torno de 10%. Afastando outras causas, o paciente pode ter doença celíaca refratária e drogas imunossupressoras devem ser utilizadas.
O tratamento baseia-se na dieta livre de glúten retirando alguns dos alimentos mais comuns como o pão, massas, barrinhas de cereais, alguns molhos prontos, condimentos, cervejas. Alguns alimentos de difícil digestão, diante de um intestino já inflamado, devem ser evitados como leite e derivados, até que pelo menos seu autoanticorpos se negativem. Cuidado com a contaminação de alimentos com glúten, o que pode perpetuar seus sintomas e aumentar o risco de complicações futuras, mesmo quando ingeridas quantidades microscópicas!
Alimentos que podem ser ingeridos:
Arroz, milho, batata, soja, frutas e vegetais, produtos livres de glúten (pães, massas etc), vinho e bebidas destiladas (rum, tequila, vodka e whiskey). O acompanhamento com nutricionista especializado é importante e recomendado. Caso haja alguma deficiência vitamínica, seu médico poderá auxiliar na reposição.
Geralmente o seguimento é feito com densitometria óssea para rastreamento de osteopenia/osteoporose, dosagem de vitaminas e autoanticorpos, que devem continuar negativos caso você esteja fazendo uma dieta correta e sem contaminação. A maioria das pessoas sentirá melhora dos sintomas nas primeiras 2 semanas com dieta glúten-free. Mas não se engane, você precisará mantê-la pro resto da vida. Nada que seu corpo e mente não consigam se adaptar.
Dicas:
› Deixar alimentos glúten-free na parte de cima da geladeira;
› Identificar os alimentos glúten-free;
› Lavar corretmente os pratos, copos e talheres após o uso;
› O seu grill deve apenas utilizar alimentos glúten-free;
› Utilizar panelas separadas; Mantenha sempre seu forno muito limpo;
› Caso vá em algum restaurante procure aqueles que sejam focados na preparação de alimentos glúten-free para que não haja contaminação;
› Busque sempre os alimentos com “selo Gluten Free”
*Conteúdo meramente informativo. Não substitui o atendimento médico.